MELHORAMENTO GENÉTICO E MARCADORES MOLECULARES - PRESENTE E FUTURO
Diêgo Henrique Serrano¹, Fausto Moreira da Silva Carmo², Samuel Colombi da Silva¹, Hugo Bicalho Carmo¹, Thiago Rody¹
¹ - Acadêmicos do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo.
² - Professor do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo.
O melhoramento genético assistido através de marcadores moleculares
já é uma realidade em programas genéticos com animais e plantas. Esta
tecnologia superou os problemas de instabilidade e baixa precisão dos
marcadores morfológicos através da detecção direta de diferenças entre
alelos na sua sequência no DNA. Nos últimos anos diversas estratégias
levaram à identificação de marcadores moleculares associados com
características importantes nas cadeias produtivas da pecuária mundial.
Os trabalhos iniciais para desenvolver e caracterizar marcadores
moleculares para espécies de interesse zootécnico iniciaram-se no início
dos anos 80, onde as primeiras publicações relatavam resultados de
estudos de caracterização de marcadores RFLP (do inglês Restriction Fragment Length Polymorphism)
que foram utilizados em suínos e bovinos. Entretanto estes estudos
iniciais apresentavam metodologias trabalhosas e com muitos limites,
apesar de terem sido considerados renovadores na época, uma vez que as
alternativas disponíveis resumiam-se em estudos com grupos sanguíneos e
aloenzimas. Tipicamente, para produzir um dado molecular (um genótipo)
eram necessários em média cinco dias de trabalho, usando radioisótopos e
enfrentando várias questões técnicas que dificultavam o trabalho
(GEORGES et al. 1987). (PALMITER et al. 1982).
Após esses trabalhos realizados, os primeiros estudos para isolar e caracterizar marcadores do tipo SSR (Simple Sequence Repeats).
Esforços significativos foram empregados para identificar
microsatélites em bovinos, suínos e eqüinos. Essas metodologias
trouxeram muitos benefícios para o melhoramento. Inicialmente a
genotipagem desses marcadores eram realizadas com o uso de
radioisótopos. Posteriormente, com a invenção dos equipamentos, os
sequenciadores automáticos, se tornou possível utilizar fluorocromo para
detecção dos variantes alélicos. Os primeiros mapas genéticos
abrangentes para espécies de interesse zootécnico foram construídos com
marcadores microssatélites (GUERINET al., 2003).
Com a descoberta da estrutura molecular dos ácidos nucléicos (DNA e
RNA) e do melhor entendimento dos eventos como replicação, transcrição e
tradução, vários métodos foram desenvolvidos para simular esses eventos
in vitro, permitindo a análise do DNA com o objetivo de
identificar e caracterizar polimorfismos. As técnicas modernas de
biologia molecular, especialmente a técnica de Reação em Cadeia da
Polimerase (PCR), que fornece bilhões de cópias de um fragmento alvo de
DNA utilizando uma DNA polimerase termoestável, facilitaram enormemente a
detecção de polimorfismos genéticos diretamente no DNA (GONÇALVES et
al., 2005). A PCR para sintetizar uma fita nova de DNA, necessita de um
par de oligonucleotídeos iniciadores ou primers (uma única fita
curta de DNA, específica para o gene que se quer estudar) que
complementam a fita oposta da sequência de DNA a ser amplificada (uma
amostra de DNA a ser identificada) e de precursores de síntese de DNA,
chamados dNTPs (desoxinucleotídeos tri-fostato ou dATP, dTTP, dCTP e
dGTP). Depois da desnaturaçãodo molde de DNA mediada pelo calor, 94 -
96°C, a temperatura é reduzida (50- 68°C) ocorrendo a ligação dos primers a
sua sequência respectiva no molde de DNA, o que é denominado de
anelamento, a temperatura é elevada para 72°C, e então a enzima,
DNA-polimerase, sintetiza uma fita complementar em direção à extensão5'
e3' duplicando, assim, a sequência alvo escolhida. Os ciclos de
desnaturação, anelamento e extensão são repetidos várias vezes.
Teoricamente, em cada ciclo a quantidade de moldes de DNA dobra, pois os
produtos de um ciclo servem de molde para o ciclo seguinte e, portanto,
depois de 10 ciclos a sequência alvo dentro do molde de DNA é
multiplicada por 1.000 e, após 20 ciclos, é multiplicada por 1.000.000,
levando ao aumento exponencial do número de cópias do DNA amplificado
(MULLIS, 1990).
Os distintos tipos de marcadores moleculares hoje disponíveis
diferenciam-se pela tecnologia utilizada para revelar variabilidade a
nível de DNA, e assim variam quanto à habilidade de detectar diferenças
entre indivíduos, custo, facilidade de uso, consistência e
repetibilidade. Os principais tipos de marcadores moleculares podem ser
classificados em dois grupos, conforme a metodologia utilizada para
identificá-los: hibridização ou amplificação de DNA. Entre os
identificados por hibridização estão os marcadores RFLP (Restriction
Fragment Length Polymorphism) e minissatélites ou locos VNTR (Variable
Number of Tandem Repeats). Já aqueles revelados por amplificação incluem
os marcadores do tipo: RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA), SCAR
(Sequence Characterized Amplified Regions), STS (Sequence Tagged Sites),
Microssatélite e AFLP (Amplified Fragment Length Polymorphism). As
principais etapas requeridas para obtenção de resultados variam com o
tipo de marcador molecular utilizado (PARAN, MICHELMORE, 1993).
Devido a essas novas tecnologias o Brasil segue a tendência mundial
na busca de maior eficiência e qualidade na produção de alimentos
destinados à população humana em constante crescimento. A pecuária
moderna baseia-se na intensificação da atividade, tanto em relação à
busca de qualidades produtivas dos animais, quanto ao aumento da
velocidade do ciclo de produção, favorecendo a maior produção por
área/ano (MILAZZOTTO, 2001). Para manter a competitividade comercial num
cenário de mercados internos e externos em desenvolvimento, a
agroindústria brasileira vêm investindo em programas de melhoramento
genético buscando aumentar a eficiência da produção, padronização dos
animais e de seus produtos. Com base no conhecimento de que as
características fenotípicas são herdáveis, e com auxilio de marcadores
moleculares, possibilitou-se um grande beneficio no que diz respeito o
aumento da produção, a capacidade e a velocidade de crescimento e ganho
de peso dos animal e animais mais resistente a certos tipos de doenças.
Essas características são preditas e utilizadas na elaboração de índices
que são utilizados como critério de seleção para o melhoramento
genético (CARVALHO, 2008).
Um exemplo que pode ser observado e que, é característico no
melhoramento genético em suínos, é o gene halotano, conhecido também
como gene do estresse, que pode levar a causar um aumento nas mortes
súbitas em animais submetidos a situações de estresse (FÁVERO, BELLAVER,
2007; REGINATO; COUTINHO, 2001). Os animais que apresentam este tipo de
gene possuem um desenvolvimento muscular superior ao dos animais que
não apresentam, tornando-se mais susceptíveis a problemas de qualidade
de carne, como PSE (carne de coloração pálida, macia e com perda de
água) (FÁVERO; BELLAVER, 2007; REGINATO; COUTINHO, 2001). Pode se
observar também que os cruzamentos de machos terminais heterozigotos
(HalNn) com fêmeas homozigotas livres do alelo recessivo (HalNN) tem o
objetivo de obter uma progênie 50% HalNn e 50% HalNN, com um aumento de 1
a 2% no conteúdo de carne nas carcaças e, supostamente, sem prejuízo
para a qualidade da mesma (FÁVERO; BELLAVER, 2007). Outro exemplo e o
gene da carne ácida que é dominante, caracterizado por causar uma perda
no rendimento industrial durante o processamento de produtos curados e
cozidos, devido à baixa quantidade de proteína na carne e a um pH final
baixo, provocado por um alto conteúdo de glicogênio nas fibras brancas
dos músculos e por isto foi denominado de RN pelo fato de ter sido
estudado pela primeira vez em avaliações do rendimento de Presunto
Napole (FÁVERO; BELLAVER, 2007). Em suínos vem sendo estudada a
influência do polimorfismo no gene receptor de estrogênio (ESR) em
características reprodutivas como o tamanho de leitegadas (REGINATO;
COUTINHO, 2001). Segundo Short e colaboradores (1997) em seus
experimentos com linhagens da raça Chinesa Meisham que o gene
ESR aumenta em0,8 a 1 leitão por leitegada para cada cópia desse alelo e
para animais homozigotos para o gene ESR o acréscimo foi de1,6 a 2
leitões por leitegada.
Com o avanço das pesquisas de melhoramento genético utilizando
marcadores moleculares, essas característica maléficas determinadas por
genes específicos, podem ser melhor identificadas e analisadas, e a
partir dos resultados obtidos, pode estabelecer um programa de
melhoramento que descarte os animais em que estes genes estejam
presentes.
As perspectivas futuras mostram um grande avanço muito importante na
questão de marcadores moleculares uma delas são os chips de genotipagem
de alta densidade disponíveis para espécies de interesse zootécnico,
onde estão sendo extensamente utilizados por grupos do mundo para
desenvolvimento de ferramentas de seleção genômica. No caso dos bovinos,
embora os chips atuais sejam adequados para estudos com a maioria das
raças taurinas, os estudos em andamento revelaram que em certas raças,
principalmente do grupo zebuíno, os marcadores contidos nos chips
apresentam informatividade reduzida. Com isso, um número significativo
de marcadores não pode ser utilizado nas análises por estar fixado na
raça ou por apresentar MAF (Minor Allele Frequency) próxima a
zero. Negociações para desenvolvimento de novos chips, com mais
marcadores, derivados de um número maior de raças, estãoem andamento. A
única certeza que se tem do futuro é que os próximos anos trarão grandes
e estimulantes avanços para o melhoramento animal (EID et al., 2009).
Portanto devido ao aumento da demanda por produtos de origem animal,
pela necessidade da população mundial em consumir estes, vem sendo de
grande valia os estudos de melhoramento genético com auxilio dos
marcadores moleculares em animais de produção, que apresentam como
objetivo principal, a seleção de animais que possam transmitir
características excelentes na produção, gerando produtos com menor
tempo e com uma melhor qualidade, e também na obtenção de maiores
lucros para os produtores.
REFERÊNCIA
CARVALHO, M.E. Cracterização da frequência de polimorfismos em genes ligados a maciez de carne da raça Nelore.
2008.56f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Zootecnia e Engenharia de
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São Paulo, São Paulo.
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GEORGES, M.; LEQUARRÉ, A.S.; HANSET, R.; VASSART, G. Genetic
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GONÇALVES, T.M. ; OLIVEIRA, H.N. ; BOVENHUIS, H. ; BINK, Marco ; ARENDONK, Johan Van . Detecção de locos de características quantitativa(QTL) afetando o crescimento e a carcaça de suínos. R. Soc. Bras. Zootec., v. 34, p.1540-1552, 2005.
GUÉRIN, G.; BAILEY, E.; BERNOCO, D. et al. The secondgeneration of
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MILAZZOTTO, M. P. Mutações no gene do receptor do hormônio luteinizante (LHR) bovino e associaçãocom precocidade sexual em fêmeas Bosprimigeniusindicus(Nelore). Dissertação de Mestrado. Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista – campus de Botucatu, 2001.
MULLIS, K. (1990). The unusual origin of the polymerase chain reaction.Scientific15 American April 56-65
PALMITER, RD, BRINSTER RL, HAMMER RE, TRUMBAUER ME, ROSENFELD MG,
BIRNBERGNC, EVANS RM (1982) Dramatic growth of mice that develop from
eggs microinjected with metallothionein-growth hormone fusion genes. Nature 300: 611-615.
PARAN, I.; MICHELMORE, R.W. 1993. Development of reliable PCR-based markers linked to downy mildew resistance genes in lettuce. Theor. Appl. Genet., 85:985-993.
REGITANO, L. C. A.; COUTINHO, L. L. Biologia Molecular aplicada à ProduçãAnimal. Brasília: EMBRAPA, 2001.
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