Desde o nascimento a vida se desenvolve de tal forma que a idade
cronológica passa a se definir pelo tempo que avança. E o tempo fica
definido como uma sinonímia para uma eternidade quantificada, ou seja,
uma cota. Desta forma, o homem e o tempo se influenciam mutuamente,
produzindo profundas mudanças nas subjetividades e diferentes
representações que lhe permitem lidar com a questão temporal (Goldfarb,
1998).
As limitações corporais e a consciência da temporalidade
passam a ser problemáticas fundamentais no processo do envelhecimento
humano, e aparecem de forma reiterada no discurso dos idosos, embora
possam adquirir diferentes nuanças e intensidades dependendo da sua
situação social e da própria estrutura psíquica (Goldfarb, 1998). Corpo e
tempo se entrecruzam no devir do envelhecimento, e como conseqüência
disso, nascerão as diversas velhices e suas conseqüentes múltiplas
representações. Entretanto, se cada pessoa tem a sua velhice singular,
as velhices passam a ser incontáveis e a definição do próprio termo
torna-se um impasse. Afinal, uma pessoa é tão velha, tendo como
referencial algum tipo de declínio orgânico, ou são as maneiras pelas
quais as outras pessoas passam a encará-las que as confinam num reduto
denominado Terceira Idade? E quando uma pessoa se torna velha? Há uma
idade ou um intervalo específico para a Terceira Idade? Não precisa ir
muito longe para constatar que o que se percebe, então, é a
impossibilidade de se estabelecer uma definição ampla e aceitável em
relação ao envelhecimento (Veras, 1994). Percebe-se atualmente que
nossos referenciais sobre a terceira idade e tudo o que se supunha saber
é insuficiente para definir o que se atualmente concebe como terceira
idade.
Cria-se assim um dilema, pois, como teorizar acerca de um
conceito como este? Embora todos saibamos reconhecer um idoso, é muito
difícil definir algo que possa servir para caracterizar a situação no
qual se encontra. Poder-se-ia recorrer a um referencial biológico que
desse conta da aparência ou das patologias consideradas como clássicas
para este período da vida, tais como cabelos brancos, rugas,
osteoporose, artrose, hipertensão, perdas de memória, cardiopatias,
dentre outros, contudo, se por um lado estes sinais costumam, muitas
vezes, se manifestar bem antes que uma pessoa possa ser definida como
velha ou em processo de envelhecimento, por outro lado, a ciência
contemporânea conta com novos recursos com vistas à superar a maioria
destes sinalizadores de idade avançada, logo, estes não mais se prestam
para definir a velhice. Neste sentido, o ritmo de aprendizado do idoso
deve ser levado em conta ao se empreender ensinar algo novo e diferente
para o mesmo. É interessante observar quão tênue é o conceito de
Terceira Idade tendo como prisma o declínio das atividades orgânicas
funcionais, pois a capacidade funcional e o desempenho em geral sofrem
uma evolução durante a infância e atinge o auge entre o término da
adolescência e os 30 anos de idade, portanto, fisiologicamente, o
indivíduo a partir dos 30 anos já está incluído na Terceira idade
(Simões, 1999).
Poder-se-ia talvez arriscar uma definição em
termos psicológicos, ao se recorrer a parâmetros como o enrijecimento do
pensamento, perdas cognitivas, certo grau de regressão e tendências
depressivas. Todavia, todas estas características reunidas não dão
contas de abarcar todas as inúmeras velhices e também estão
presentificadas no cotidiano de muitas outras pessoas que não
compartilham da considerada terceira idade.
Idoso é um termo que
indica uma pessoa com uma vivência traduzida em muitos anos. Em geral, a
literatura classifica, didaticamente, as pessoas acima de 60 anos como
idosos e participantes da Terceira Idade. Recentemente, este marco
referencial passou para 65 anos em função principalmente da expectativa
de vida e das tentativas legais do estabelecimento da idade para o
início da aposentadoria. A idade pode ser biológica, psicológica ou
sociológica à medida que se enfoca o envelhecimento em diferentes
proporções das várias capacidades dos indivíduos. Na década de 60,
apenas 5% da população tinham mais que 60 anos, as previsões para 2020
são 13% da população com essa idade ou mais. Entretanto, a transformação
da velhice em problema social não pode ser encarada apenas como
decorrente do aumento demográfico da população idosa. Dessa maneira, a
problemática do envelhecer órbita mais em torno do funcionamento da
sociedade no qual está inserida do que no volume da mesma (Dourado e
Leibing, 2002).
Atualmente, considera-se a existência de uma
“Quarta Idade” que englobaria pessoas com 80 anos. De acordo com algumas
estimativas, esta faixa etária alcancará uma representatividade
considerável cerca de 4,5 milhões pessoas em até 2020. Consoante Cançado
(1996), o aumento do número de idosos também tem sido acompanhado por
um acréscimo significativo nos anos de vida da população brasileira. A
esperança de vida, que era em torno de 33,7 anos em 1950/1955, passou
para 50,99 em 1990, chegou até 66,25 em 1995 e deverá alcançar 77,08 em
2020/2025. O dado mais preocupante é que este tempo de vida não é
alcançado de forma satisfatória e sem graves problemas; ao contrário,
estes seres humanos, passam a ser indevidamente marginalizados e
apresentam um quadro de carência emocional exacerbada (Simões, 1998).
Os
estudos científicos que se ocupam desta temática caminham em busca de
um trabalho preventivo em relação aos idosos visando, principalmente,
prepará-los para um melhor enfrentamento deste período. É fundamental
que se perceba que o envelhecimento não é somente um “momento na vida do
indivíduo, mas um ‘processo’ extremamente complexo e pouco conhecido,
com implicações tanto para quem o vivencia como para a sociedade que o
suporta ou assiste a ele” (Fraiman, 1995, p.19). Segundo Bacelar (1999),
trata-se de um conjunto de alterações psicofísicas do organismo da
pessoa e de sua maneira de interagir com o meio social no qual está
inserida.
Das diversas formas de categorização – sociais,
culturais, psicológicas que tentam definir os limites entre as idades,
nenhuma delas é capaz de descrever o experienciar da velhice,
tornando-se vagas arbitrárias generalizações (Dourado e Leibing, 2002).
Portanto, os diversos autores não são concordes ao discorrerem a
respeito do conceito de velhice.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o envelhecimento em quatro estágios:
· Meia-idade: 45 a 59 anos;
· Idoso(a): 60 a 74 anos;
· Ancião 75 a 90 anos;
· Velhice extrema: 90 anos em diante.
Na
literatura que concerne ao tema, uma das primeiras questões a chamar a
atenção do leitor é o freqüente uso de eufemismos para denominar a
velhice e tudo o que se lhe faça referência. Todas estas tentativas
tornam-se falidas à medida que buscam suavizar o peso que o termo
‘velho’ causa em nossa sociedade. Desta forma, segundo Goldfarb
“parece-me que a velhice, como alguma coisa da ordem do diabólico, não
pode ser nomeada sem provocar o medo e a rejeição” (Goldfarb, 1998, p.
23). Atualmente e amiúde, observa-se ao quase desaparecimento do
substantivo ‘velho’, que permanece no uso corrente, embuído de
propriedade adjetiva para se referir a coisas antigas ou deveras
utilizadas. Desta forma, o substantivo ‘velho’ cede lugar a expressões
eufemísticas tais como ‘senhora de terceira idade’, ‘velhinho bonachão’,
‘senhor de idade avançada’ dentre muitas outras tentativas que
palidamente tentam nomear o que no fundo se concebe como inominável.
E
ainda bem que, personalidades, intelectuais, políticos, artistas, com
mais de 60 anos, aparecem na mídia, contradizendo arcaicos estereótipos
ao demonstrarem inteligência, versatilidade, perspicácia, audácia, boa
forma, bom humor, dentre outras características, mostrando que também na
velhice podem ser produtivos. E, isso acaba por transformar também o
idoso comum. Ele vai se sentir estimulado a também procurar aperfeiçoar
suas relações interpessoais.
Alguns ainda preferem direcionar
suas vidas para a religiosidade, a contemplação, fazer trabalhos
humanitários e sociais, investindo na vida de uma outra forma e
sentem-se felizes em agir assim. Percebe-se, então, que há várias formas
para se viver depois dos idos sessenta anos e não poucos como se pode
pensar. Em contrapartida, ainda para alguns, à velhice, tal qual a
concebem, continuará a ser o reduto de orações diversificadas, que
tentam compensar carências afetivas e doenças que sinalizam o fim
iminente. Para estes restará o que o teatrólogo italiano Luigi
Pirandello, no século XIX, certa vez disse: ‘così è se vi pare’, ou
seja, ‘assim é se lhe parece’.
O que muitas vezes se desconsidera
é que a velhice é um processo contínuo desde o nascimento. O uso de
certos meios para retardar o envelhecimento pode impedir ou até inverter
tal processo, sem alterar, porém, a data final da morte. E se o limite
da vida humana é a morte, a velhice é a fase da existência que está mais
próxima deste horizonte. Porém, deve-se lembrar que a morte não é um
privilégio da velhice (Simões, 1999). Ela pertence a cada um de nós que
se encontra vivo e atuante. No entanto, o envelhecimento assusta, uma
vez que é a fase do organismo humano, na sua evolução, que leva algumas
pessoas a associarem a sua chegada ao sinônimo de morte. As pessoas que
conseguem superar este medo passam a encarar a velhice como qualquer
outro período da existência. A psicologia da anciedade entende que o
envelhecimento não significa uma decadência e sim uma seqüência da vida,
com suas peculiaridades e características. Ora, sabemos que a fonte da
juventude é uma utopia e, certamente, as pessoas que perseguem tal ideal
sofrem de muitas angústias, pois, recusam-se a encarar a realidade
afinal, ninguém é tão velho que não acredite poder viver ao menos mais
algum tempo. Deve-se pensar, portanto, em envelhecer com qualidade e
evitarmos, assim, as contínuas mortes de direitos e deveres do
cotidiano. É, principalmente, o olhar do outro que aponta nosso
envelhecimento. E é comum reconhecermos o envelhecimento, pois,
anuncia-se em termos de estética.
A característica principal da velhice é o declínio, geralmente físico,
que leva as alterações sociais e psicológicas. Os teóricos classificam
tal declínio de duas maneiras: a senescência e a senilidade.
A
senescência é um fenômeno fisiológico e universal, arbitrariamente
identificada pela idade cronológica, pode ser considerada um
envelhecimento sadio, onde o declínio físico e mental é lento, e
compensado, de certa forma, pelo organismo (Pikunas, 1979).
A
senilidade caracteriza-se pelo declínio físico associado à
desorganização mental (Pikunas, 1979). Curiosamente, a senilidade não é
exclusiva da idade avançada, mas pode ocorrer prematuramente, pois,
identifica-se com uma perda considerável do funcionamento físico e
cognitivo, observável pelas alterações na coordenação motora, a alta
irritabilidade, além de uma considerável perda de memória.
A
realidade brasileira marginaliza as pessoas idosas. Isto não costuma
ocorrer em outras culturas, como por exemplo, a cultura oriental que
integra intensamente os idosos à vida social. Para estes, o velho não é
sinônimo de senil e sim um sábio, transcendendo a conotação pejorativa
dos brasileiros que, muitas vezes, não vêem a hora de internar seus
idosos quando não os segregam dentro de suas próprias famílias. Deve-se
repensar também que, em algumas situações, os idosos se excluem das
atividades sociais alegando a idade como pretexto para se vitimizarem e
se sentirem inúteis perante a sociedade. Isso gera uma exclusão na qual
eles mesmos são os responsáveis diretos. É necessário, pois, ao geronto
saber que à medida que a idade avança não se deve proceder e/ou ceder
aos mecanismos de afastamento do convívio com os semelhantes. A
marginalização do idoso é realmente um problema cultural.
É bom
lembrar também que com o passar da idade a inteligência pode ou não
sofrer um decréscimo, diferindo da memória, cujo declínio é inevitável.
Embora isto possa acontecer alguns autores (Gooldfarb, 1988; Simões,
1988) afirmam que a vontade de aprender é suficiente para que o
aprendizado ocorra, da mesma maneira que para um adolescente de 12 anos a
um senhor de 80 anos. Logicamente, as limitações causadas pelo
envelhecimento, bem como as estratégias usadas para compensá-las são
evidenciadas. Desta maneira, a aprendizagem na terceira idade é viável,
porém é limitada especificamente pela velocidade que a nova tarefa é
apresentada, uma vez que o idoso retém menos informações após uma
primeira apresentação.
Embora muitas vezes camuflado, pode-se
ainda observar que muitas das ações supostamente destinadas a cuidar das
pessoas mais velhas, nada mais são do que subterfúgios para mantê-los
isolados, assim como muitos discursos elogiosos não são mais que
disfarces para encobrir o que de ameaçador e de angustiante a velhice
encerra em nosso imaginário social.
É importante destacar que a
velhice não é um processo único, mas a soma de vários outros, distintos,
entre si. Portanto, uma outra possível explicação para tal dificuldade
em se categorizar a velhice consiste no fato em que ela não é um estado,
mas um constante e sempre inacabado processo de subjetivação. Portanto,
pode-se dizer que na maior parte do tempo não existe um “ser velho”,
mas um “ser envelhecendo”.
Amor e sexualidade na terceira idade
Paralelamente
à dificuldade que se tem para a conceituação da velhice, tem-se,
também, a problemática da aceitação das práticas amorosas e
manifestações sexuais em pessoas que se encontram em idade avançada.
Alguns dizem que a vida realmente começa a partir dos 40 anos. Contudo,
será que há um outro limite, que não a morte, para ela terminar?
Dessa
forma, muitas vezes, a sociedade contribui para que o idoso tenha esta
percepção de menos valia porque as pessoas de mais idade sempre foram
imaginadas como aquelas que estão se despedindo da vida. Deduz-se,
então, incorretamente que, porque se aposentou do seu trabalho, de sua
função, o idoso aposentou-se da vida. Este preconceito acaba por privar
os idosos de várias coisas como o amor, a sexualidade e o lazer.
O
que se concebe por amor para o presente artigo não é uma das acepções
para a realização do ato sexual, mas segundo Almeida e Soutto Mayor
(2006) é um conceito utilizado para denominar um conjunto de sentimentos
diversos, distintas topografias comportamentais e múltiplos perfis de
respostas cognitivas que embora variados, estão relacionados entre si e
são inerentes ao ser humano, tendem a se perdurare possuem inúmeras
formas válidas de sua manifestação.
E, se as atitudes
preconceituosas da sociedade no qual estão inseridos os idosos tipificam
as atitudes deles, então, não há nenhum outro lugar onde este
preconceito é mais aparente do que na área da sexualidade (Starr, 1985).
Um dos inúmeros exemplos que podemos citar dessa triste realidade é a
expressão “viúva alegre”. Muitas vezes, as mulheres passam anos sob o
jugo de um marido completamente intransigente e quando este é subtraído
da vida estas passam a conhecer a vida por um novo prisma. Otimizando e
usufruindo de situações que não tiveram oportunidades anteriormente,
como por exemplo, com um novo parceiro que escolhem. Embora, algumas
pessoas critiquem estas pessoas, elas nos mostram que a sexualidade faz
parte da vida dos seres humanos e está presente em todas as fases do
desenvolvimento do homem. Vai desde o nascimento até a morte. A função
sexual continua por toda a vida mesmo na terceira idade.
Tudo é
ditado pelos jovens e adultos e não se permite que, por exemplo, um
idoso ame socialmente, não levando em consideração a possibilidade de um
relacionamento físico e amoroso na Terceira Idade, a tal ponto que os
próprios idosos acabam nutrindo os pré-conceitos dos mais jovens. Assim,
o idoso muitas vezes acaba por se tornar o difusor de tais preconceitos
cristalizando as crenças dos mais jovens e passam a se esquecer de que o
desejo não tem idade. Pouco a pouco o idoso passa a acreditar que não
pode amar, comportando-se segundo as expectativas sociais, porque se o
fizer será considerado um degenerado, libidinoso ou indecente. E se isto
é verdade para os idosos do sexo masculino, a situação ainda é pior
para as idosas. Assim, deve-se pensar no que tem maior peso: a idade em
si ou a idéia que as pessoas idosas fazem de si mesmas? Logo, o idoso
deve encarar como sadias as práticas amorosas e eróticas na velhice,
sendo esta atitude positiva associada a um sentimento de adesão à vida. O
problema crítico dos idosos em matéria de sexualidade consiste, então,
em ganhar coragem e perder a vergonha. Atingidos tais objetivos pode-se
ter uma vivência erótica de suas sexualidade bem melhor que em qualquer
época da vida.
O que se percebe, então, é que a escassez de
informações sobre o processo de envelhecimento, assim como das mudanças
na sexualidade em diferentes faixas etárias e especialmente na velhice,
tem auxiliado a manutenção de preconceitos e, conseqüentemente,
trouxeram muitas estagnações das atividades sexuais das pessoas com mais
idade (Risman, 2005). Dessa forma, acredita-se que uma má compreensão
da sexualidade na terceira idade leve a dificuldades desnecessárias de
superação para os problemas de seus participantes, de forma que um
esclarecimento acerca das informações distorcidas que se difundem em
relação à sexualidade pode contribuir para a diminuição das crenças e
tabus sobre um assunto tão cheio de preconceitos.
Quando o ser
humano se situa em plena juventude, época em que os hormônios determinam
à variação do humor e dos desejos afetivos e sexuais, torna-se
impensável imaginar a possibilidade de futuramente se envelhecer.
Com
uma visão restrita, tanto em relação à sexualidade quanto à velhice a
sociedade, freqüentemente, classifica este período da vida como um
período de assexualidade e até de androginia, ou seja, um período em que
o indivíduo teria que assumir unicamente o papel de avó ou avô,
cuidando de seus netos, fazendo tricô e vendo televisão (Risman, 2005). E
a falsa crença de que a velhice é uma etapa assexuada influencia
profundamente a auto-estima, autoconfiança, rendimento físico e social
dos adultos mais velhos, além de contradizer a normalidade das sensações
e a capacidade de amar do ser humano.
Percebe-se que os meios de
comunicação, a publicidade e os cânones de beleza impregnam a sociedade
por supervalorizarem a juventude, os corpos perfeitos e a atração
física como requisitos fundamentais para encontrar um parceiro e manter
um relacionamento. Dessa forma, estes ditames muitas vezes servem para
onerar as pessoas de mais idade para se equipararem e utilizarem os mais
variados aparatos e instrumentais. Estes variam desde cremes e
comprimidos até cirurgias protéticas e mutiladoras, aos quais muitos se
submetem para tentar recuperar palidamente suas juventudes. Quando isso
não acontece, sentem-se expostos, infelizes e deficientes. Infelizmente,
a propagação de estereótipos errôneos de que as pessoas idosas não são
atraentes fisicamente, não têm interesses por sexo ou são incapazes de
sentir algum estímulo sexual, ainda são amplamente difundidos. E, assim,
estes referenciais que lhes são passados tornam-se verdadeiros leitos
de Procusto de uma vitalícia, e utópica fonte da juventude.
O
comportamento sexual é plurideterminado por princípios como cultura,
religião, educação e esses valores influenciam intensamente o
desenvolvimento sexual, determinando a maneira como iremos vivenciá-la e
lidar com ela por toda a vida. Assim, a geração atual de idosos é fruto
de uma educação muito severa. Os pais destes tinham por orientação
sexual os conceitos e preconceitos repressores, herdados de uma outra
geração mais repressora ainda, e para muitos, o exercício da sexualidade
era algo sujo e pecaminoso. Pode-se dizer ainda que a sexualidade no
idoso está relacionada a vários sentimentos: as alegrias, as culpas, as
vergonhas, os preconceitos e as repressões de cada um. O sexo na
terceira idade traz satisfação física, reafirma a identidade e demonstra
o quanto cada pessoa pode ser valiosa para outra, estimulando sensações
de aconchego, afeto, amor e carinho.
Todavia, a idéia de uma
visão mais positiva e produtiva para o envelhecimento, começa a ganhar
força nos dias atuais e é resultado de diversos fatores, dentre os quais
se destaca o crescimento do número de idosos no mundo inteiro. Uma
educação da sociedade neste sentido se faz necessária, porque do
contrário, somente quando as outras gerações entrarem para a velhice
elas provavelmente reivindicarão para si mesmas o direito à sexualidade
na meia-idade e na velhice.
E, embora esteja em um constante
crescimento os que acreditam na existência do amor e do sexo na terceira
idade, ainda são poucos os que ainda acreditam que exista uma
continuidade da sexualidade para as mulheres, ou mesmo, para os homens
que passaram dos seus sessenta anos. Há pouco tempo isto era tabu. Pouco
ou quase nada, se falava sobre o assunto sexualidade na velhice. Se por
um lado, “os jovens há menos tempo” não param para pensar que o desejo
não tem idade, por outro lado, alguns “jovens há mais tempo” tendem a
imaginar que, com o passar dos anos, o coração tenha envelhecido de tal
forma que chegam a perder a noção de como é o amar e que é tarde demais
para fazê-lo. Há ainda aqueles que externam sua aversão ao tocar neste
assunto, e sequer podem imaginar adultos, em idade avançada, ainda
cultivando o amor e trocando afetos mais íntimos em público.
Como
velhice não é sinônimo de doença, mas pode estar relacionada a doenças
degenerativas, algumas considerações se fazem necessárias visando um
desenlace contraproducente a uma boa vivência nesta fase da vida. Assim,
os problemas de saúde podem limitar, mas não impedir, na grande maioria
dos casos, que um idoso leve uma vida sexual ativa. Em relação às
mudanças biológicas, ainda não possuímos respostas a todas as indagações
de como e por que envelhecemos. As pesquisas têm demonstrado,
entretanto, que as mudanças biológicas não devem ser encaradas como
doenças (Silva, 2000).
É também verdade que o sexo, assim, como
várias outras atividades organo-fisiológicas vai se tornando menos
necessário, com a idade. Dessa forma, durante a velhice, o desejo sexual
pode sim diminuir. O mito, entretanto, é alimentado pela desinformação e
pela má interpretação das inevitáveis mudanças fisiológicas, que
ocorrem nos indivíduos de mais idade. A sexualidade é freqüentemente um
delicado equilíbrio entre as emoções e as causas psicológicas. Se o
homem teme excessivamente a impotência, pode criar estresse o suficiente
para causá-la.E, na maior parte das vezes, o fracasso sexual ou a
evitação sexual é induzida pelo pessimismo e ansiedade gerada pela má
informação. Deve-se então, desvincular o mito da verdade a fim de que os
problemas fisiológicos possam ser encaminhados ao médico, que dentro de
suas atribuições buscará pelas causas. Ainda assim, o desejo e a
necessidade de afeto permanecem para os idosos e, estes casais, podem
ter os mesmos problemas que envolvem as pessoas de todas as idades.
Para
Azevedo (1998), tanto o homem como a mulher continuam a apreciar as
relações sexuais durante a velhice, as alterações que ocorrem na mulher,
como a secura da vagina e a diminuição no tempo de ereção do homem,
podem até prejudicar o prazer sexual, mas a boa adaptação sexual ira
determinar o prazer.
E o fato de haver uma diminuição na
freqüência das atividades sexuais, não significa fim da expressão ou do
desejo sexual. Em idades mais jovens existe uma grande preocupação com a
“quantidade” de atividades sexuais; em idades mais avançadas esta noção
de quantidade deve e pode sadiamente ser substituída por uma noção de
“qualidade”. Muitos idosos não aceitam esse processo natural de
envelhecimento e se sentem impotentes. Aqui há de se fazer uma
relativização: se um jovem precisa de vários intercursos sexuais para
encontrar satisfação, o indivíduo de mais idade pode encontrar o “mesmo
grau de satisfação” com um número bem menor destes. Há outras diferenças
a serem arroladas, como por exemplo, no caso do homem idoso, a ereção
ocorre, até o fim da vida, contudo, existe com o aumento da idade, uma
maior necessidade de estímulos, para que ocorra a ereção.
Segundo
Wagner (1989), o comportamento sensual para flertar (uma realidade que,
às vezes, poucos nesta fase ainda se engajam) e sexual, como a maioria
dos outros comportamentos humanos, são, em grande parte aprendidos. A
imagem estereotipada do envelhecimento sem sexo, sem sensibilidade, é
também aprendida e, de certa forma, vendida para os partícipes da
terceira idade. Ainda segundo a autora, com o advento da aposentadoria,
os homens que emparelham freqüentemente suas masculinidades ao papel
laboral, que lhes é concebido como a “fonte do poder” que têm, começam a
duvidarem de sua capacidade sexual que lhes é uma outra fonte de poder.
Dessa forma, mal informados e mal adaptados a essa nova realidade,
sofrem concomitantemente um processo de perda da identidade que ameaça
seriamente o ego deles. E, é bastante comum essa visão do homem,
felizmente não compartilhada pela totalidade deles. Quanto às mulheres,
estas sentem notoriamente o conjunto das mudanças pela qual o corpo
passa, principalmente, no período da menopausa. Esta sinaliza o fim da
capacidade reprodutora, o que não implica no término da sexualidade. Os
desejos se modificam, contudo, não acabam.
Outras variáveis podem
também se tornar predisponentes para uma inadequada vivência da
sexualidade, como por exemplo, a aquisição de estereótipos privados de
significados engendrando atitudes negativas em relação ao sexo,
adquiridas quando se é ainda jovem, podem servir para enfraquecer a
capacidade de aproveitar o sexo na idade avançada. Além disso, a rotina e
monotonia da relação do casal com a passagem do tempo e as diversas
sanções religiosas que vinculam o sexo unicamente a função reprodutiva
podem interferir negativamente em como os idosos concebem a manifestação
do amor e da sexualidade que querem expressar.
É igualmente
importante considerar que muitos idosos, em sua juventude, não tiveram
oportunidade de receber educação sexual sadia. Sua educação pode ter
sido repressiva, limitando a expressão natural da sexualidade, ou
favorecendo um tipo de relação sexual empobrecida pela moral rígida.
Atualmente, alguns privilegiados podem reformular seus errôneos
paradigmas herdados em agremiações para pessoas com o mesmo perfil
etário. Portanto, poucos são os idosos hoje, que precisam levar uma vida
monótona e casta. Estes “grupos de terceira idade” promovem uma
socialização aumentando, consideravelmente, para muitos de seus
participantes os contatos sociais e permitindo uma ativa (re)construção
de suas ideologias sexuais. Assim, convivem simultaneamente com a
diferença e a semelhança dos componentes deste grupo de pessoas.
Há
amor suficiente para todos à medida que comecemos a manifestá-lo em
pensamentos, comportamentos e em sentimentos, e o mesmo se aplica para a
sexualidade. Ela pode se manifestar em todas as idades e cada pessoa
tem uma maneira própria de expressar sua sexualidade. Dessa forma, amor
somente rejuvenesce e se torna presente no cotidiano daqueles que estão
abertos para ele e para a vida. Para quem se fecha, incapaz de se
transformar ou evoluir, resta apenas a solidão e o vazio.
Por
último, deve-se evitar pensamentos saudosistas, que muitas vezes servem
para estereotipar as pessoas de Terceira Idade e que paralisam suas
ações e as possíveis e indispensáveis contribuições do idoso à
sociedade. Isto acontece quando os dias da juventude são lembrados como
um tesouro perdido, de tal forma que o idoso vive imerso numa vivência
de juventude que se deseja eterna.
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WAGNER, E. M.C.A. Amor, Sexo e Morte no Entardecer da Vida. São Paulo: Caiçara, 1989.
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