A ESCOLA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Por: Sonia das Graças Oliveira Silva
O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das
sociedades amplia-se ainda mais no despertar do novo milênio e aponta
para a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de
cidadãos (PCNs, 1998).
Na escola, durante processos de socialização, a criança tem a
oportunidade de desenvolver a sua identidade e autonomia. Interagindo
com os amiguinhos se dá a ampliação de laços afetivos que as crianças
podem estabelecer com as outras crianças e com os adultos. Isso poderá
contribuir para o reconhecimento do outro e para a constatação das
diferenças entre as pessoas; diferenças essas, que podem ser
aproveitadas para o enriquecimento de si próprias.
As instituições de educação infantil se constituem em espaços de
socialização, propiciam o contato e o confronto com adultos e crianças
de várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias,
costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um campo
privilegiado da experiência educativa.
Desse modo, na escola, criam-se condições para as crianças
conhecerem, descobrirem e ressignificarem novos sentimentos, valores,
idéias, costumes e papéis sociais.
A escola deve dar total atenção à criança como pessoa, que está num
contínuo processo de crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua
singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades.
A atenção recebida na escola reflete na criança, fazendo com que tome
consciência do mundo de diferentes maneiras em cada etapa de seu
desenvolvimento. As transformações que ocorrem em seu pensamento se dão
simultaneamente ao desenvolvimento da linguagem e de suas capacidades de
expressão.
A criança bem atendida, considerada um cidadão, enquanto cresce se
depara com fenômenos, fatos e objetos do mundo; pergunta, reúne
informações, organiza explicações e arrisca respostas. Desse modo,
ocorrem mudanças fundamentais no seu modo de conceber a vida, a natureza
e a cultura.
Além de promover a educação da criança, mostrando o correto, muitas
vezes a escola terá que propiciar situações para que os pais reflitam
sobre seus papéis e atribuições, tendo em vista que seus filhos
permanecem mais tempo com os profissionais da escola do que com eles
mesmos.
A criança é movida pelo interesse e curiosidade, e, motivada pelas
respostas dadas pelo profissional da escola, através de informações
vindas dos livros, notícias, reportagens, televisão, rádio, etc. ela
ficará segura, sentindo-se protegida naquele espaço onde é cidadã.
A infância é um período de desenvolvimento cultural do ser humano,
cuja importância vai ficando cada vez mais clara e precisa à medida que
avançam os conhecimentos sobre o desenvolvimento do cérebro.
As descobertas nesta área já são tão importantes que chegam a afetar
a natureza de currículos da Educação Infantil em alguns países. É o
caso, por exemplo, da França, que introduziu um currículo para a
infância apoiado em pilares diferenciados dos que nortearam a educação
da infância durante a maior parte do século XX.[1]
Neste novo currículo, as práticas culturais da infância ganham relevo
e o tempo é distribuído de forma que atividades que envolvam música e
movimento sejam equiparadas em importância às atividades mais
especificamente voltadas à apropriação da leitura e da escrita.
Busca-se, assim, uma escolarização que vise à formação da criança
enquanto ser de cultura em desenvolvimento.
O papel da escola
Se acreditarmos que o principal papel da escola é o desenvolvimento
integral da criança, devemos considerá-la em suas várias dimensões:
afetiva, ou seja, nas relações com o meio, com as outras crianças e
adultos com quem convive; cognitiva, construindo conhecimentos por meio
de trocas com parceiros mais e menos experientes e do contato com o
conhecimento historicamente construído pela humanidade; social,
freqüentando não só a escola como também outros espaços de interação
como praças, clubes, festas populares, espaços religiosos, cinemas e
outras instituições culturais; e finalmente na dimensão psicológica,
atendendo suas necessidades básicas como higiene, alimentação, moradia,
sono, além de espaço para fala e escuta, carinho, atenção, respeito aos
seus direitos (MEC, 2005).
Podemos então observar que os Parâmetros Curriculares Nacionais
elaborados pela secretaria de Educação Fundamental do Ministério da
Educação (MEC), em 1998, ressaltam tudo isso do seguinte modo: são
objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
• compreender a cidadania como participação social e política, assim
como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais,
adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio
às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas
diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar
conflitos e de tomar decisões coletivas;
• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões
sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente
a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência
ao país;
• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural
brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações,
posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças
culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras
características individuais e sociais;
• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do
ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,
contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;
• desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de
confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética,
estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com
perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania;
• conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando
hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e
agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva;
• utilizar as diferentes linguagens - verbal, musical, matemática,
gráfica, plástica e corporal - como meio para produzir, expressar e
comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções culturais,
em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e
situações de comunicação;
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
• questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de
resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a
intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e
verificando sua adequação.
O que temos ainda hoje é um caminho a ser percorrido. Um caminho de
cooperação que só será efetivo se os pais compreenderem que à escola não
cabe exercer a função moral da família. E, se a escola promovesse ações
de conscientização junto a essas famílias para que ficasse clara a
importância do dever de cada um no desenvolvimento do aluno/filho, e
que, embora essa parceria escola e família seja essencial, cada um
desses setores deve conservar suas particularidades (DI SANTO, 2007).
Referências
BRASIL. MEC – Coordenação de educação Infantil – DPEIEF/SEB – Revista CRIANÇA – do professor de educação infantil. Brasília, DF, nº 42, dez/2006.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, MEC/SEF, 1997.
DI SANTO, Joana Maria R. Centro de Referência Educacional – Consultoria e Assessoria em Educação. Disponível em: . Acesso em outubro/2007.
[1] Revista CRIANÇA, publicação do MEC/SEB, nº 42, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário