Não há como discordar que a sociedade, nos últimos anos, evoluiu em
vários sentidos. O modo como as pessoas consomem, sem dúvida, foi um dos
mais influenciados pelo capitalismo. Na realidade, o consumidor sempre
fora crítico, especialmente agora, na pós-modernidade, onde há exigência
profícua por qualidade, embora a perenidade dos produtos não seja
aquela de antigamente.
Mesmo com um consumidor mais inteligível culturalmente, a manipulação
e desfiguração de conteúdo ainda persistem. Em pleno século XXI, as
empresas, estrategicamente, estimulam a aquisição de novas mercadorias,
independentemente da constatação de necessidade. Mas não agem sozinhas, é
claro! Com anúncios persuasivos de objetos cada vez mais modernos e
práticos, a mídia (sem generalizações) cumpre um papel indescritível
quanto à divulgação/publicidade.
A interferência da mídia em quaisquer etapas do processo de escolha e
compra, estabelecido pelos teóricos, como Kotler (2000), não tem
contribuído positivamente com os consumidores. Anúncios publicitários
difundidos erroneamente na TV, por exemplo, põem em risco não só a
empresa que oferece os serviços, mas também a credibilidade do veículo.
Afinal, muitos clientes - quando confiam na marca e são pegos de
surpresa por inconveniências pós-compra - também levam em consideração o
meio pelo qual se informaram para chegar a tal conclusão. Isto é, o
veículo de comunicação que divulga propaganda enganosa de empresas
desprovidas de ética e respeito ao cidadão ou que nunca cumprem na
totalidade as garantias e os bens oferecidos, provavelmente sofrerá com a
renegação por parte dos consumidores insatisfeitos.
Mesmo que o consumidor esteja exercendo seu papel de fiscalização,
especialmente devido à explosão da internet, ainda é vítima de
organizações fraudulentas ou simplesmente que exploram e instigam o
princípio do prazer (ID, Teoria de Freud). Parte da mídia, vale lembrar,
incorpora literalmente o mundo capitalista e, infelizmente, não poupa
seu público dos efeitos degenerativos das campanhas comerciais. O
consumidor da pós-modernidade, logo, é ligeiramente enganado por
propagandas que estimulam o consumo desenfreado e não medem esforços
para alavancar produtos ‘mais eficientes', ‘duradouros' e ‘avançados'. A
crítica perde a razão e as pessoas, a priori, começam a acreditar mais
no simbólico do que no valor agregado.
No artigo O Indivíduo e a Família na Sociedade de Consumo Pós-Moderna,
a psicóloga Adriana Preto pontua que "[...] a mídia exerce um
importante papel na formação da cultura atual da sociedade do
hiperconsumo". A terapeuta também sugere que a mídia passe a divulgar
conteúdos de responsabilidade social e educacional, assim cooperando com
o conhecimento e o saber. A verdade é que a mídia pouco corrobora em
estimular um consumo sustentável e racional, já que ela é parte do jogo
de interesses do mundo corporativo.
Aliado à vulnerabilidade da Comunicação, o fator psicológico,
outrora, também determina significativamente o comportamento do
consumidor. A emoção transmitida pelas ‘mensagens perfeitas' e o desejo
de saciar alguma necessidade do inconsciente ditam com mais propriedade
que a razão. A psicologia social estuda - e instintivamente analisa - os
motivos pelos quais as pessoas adquirem bens necessários ou não.
O sentimento dos consumidores é decisivo nas compras coletivas e
individuais. Estudiosos da área relatam que pessoas, no auge do estresse
do cotidiano, tendem a fugir da realidade (princípio do EGO) buscando
refúgio e conforto por meio das compras. A expectativa é cultivar
prazeres através do ato de consumir e diminuir a ânsia e as tensões
propiciadas pelos problemas decorrentes do dia a dia. Essa teoria é
válida. Porém, os desejos momentâneos nem sempre são satisfatórios,
principalmente após esse período efêmero, podendo ocorrer até uma
dissonância cognitiva, ou seja, um sentimento de remorso do cliente.
Essa falsa sensação de autoestima e hedonismo têm uma durabilidade curta
e o austero choque de realidade frustra ainda mais os planos. Para o
professor doutor Fabiano Dolenc Del Masso, da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, "[...] o consumidor possui uma forma de esquizofrenia
simbólica, pois os objetos de consumo são reais, mas as suas
significações são irreais".
A liberdade para adquirir ou apropriar-se de algo é facilitada
repetidamente pelas condições de pagamento, isto é, empréstimos e
financiamentos que escondem juros absurdos. De certo modo, os fatores
psicológicos e a mídia interferem no comportamento do consumidor. De um
lado, a excessiva carga de anúncios insignificantes que costuma invadir o
íntimo dos compradores (e aqui citemos a má educação brasileira,
centralizada no certo e errado, e não propriamente na crítica). De
outro, as emoções, significações, o simbolismo e as justificativas sem
fundamentos. Tudo em favor do consumo irresponsável, que evidencia
status, luxo, afeição, moda etc.
Assim sendo, há de discordar que o consumidor seja tão esperto como
muitas organizações e autores o definem. No entanto, é cabível avaliar
que na pós-modernidade esse mesmo consumidor mudou suas atitudes
arcaicas, tornando-se mais íntegro e fiscalizador, embora não o
suficiente para se esquivar da frenética exposição de produtos e/ou
serviços irrisórios. É óbvio que não podemos e nem estamos
generalizando.
Por fim, o comportamento do consumidor não passa nem perto de ser
estático; está em ampla ascensão e os elementos psicológicos, na grande
maioria, são imprescindíveis na hora de se decidir uma compra. E quem
aproveita dessas emoções e da própria descontração dos consumidores são
as indústrias, que pregam, sem dó, a aquisição de bens como algo
fantástico num mundo imaginário onde todos podem ter o que bem desejar.
Ótimo Artigo!!
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