Em que pesem todas as laudas sobre a economia de serviço, a produção
física continua ser a base da valoração capitalista real. O bem físico
tem seu tempo de uso, o serviço se consome na hora. A necessidade de
deslocamento físico da sociedade humana, após a necessidade de
subsistência alimentar, se tornou o motor de todo o progresso da
humanidade.
Nos idos anos de 1950, houve a oportunidade no Brasil de aplicar na
prática esta tese através da indústria automobilística. Com a visão do
estadista Juscelino Kubitschek, foi oferecido algumas facilidades,
traindo assim investimentos direto de três grande montadoras: General
Motors, Vokswagen e Ford Motors (mais tarde veio se aliar ao nosso
desenvolvimento a FIAT).
Embora fossem plantas sucateadas de seus países de
origem, permitiu-nos sair da condição dependente de importação, para sua
própria produção. Por efeito, surgiram toda uma constelação de
indústria de autopeças, para atendimento destes projetos. Uma vasta gama
de fornecedores e prestadoras de serviço servem hoje aquela indústria.
Uma usina colossal de empregos.
Desde seu surgimento, este setor sempre teve (e até hoje)
o beneplácito das autoridades governamentais tal o impacto na economia
do país.
Quando a economia americana sofreu primeiro revés, onde a indústria
automomobilística deu os primeiros sussurros de fragilidade, o governo
americano de imediato fez um aporte de bilhões de dólares a General
Motors, tal a importância do setor, em termos de manutenção do emprego
da sociedade. Esta é a galinha dos ovos de ouro, que jamais poderá
morrer. Isso era desesperadamente necessário, porque a capacidade
econômica do sistema global tinha sido construido justamente em cima da
indústria automobilística, que ameaçava derreter (2008) como gelo ao
sol, após o colapso do poder de compra ficticio que se criou com as
bolhas financeiras.
Não somente nos EUA, teve este procedimento, mas como
todos os países que tenham suas economias assentada neste motor da
economia, como a Europa e o Japão. Pelo lado da moeda que fazem o papel
da liquidez no sistema, houve uma enxurrada de dinheiro dos bancos
centrais para sustentar a economia para não cair o objeto preferido de
desejo: o automovel. Como diz Robert Kurz, filósofo alemão, "quem acaba
de escapar da fome logo começa sonhar com seu automovel". Até a China
despertou de sua inércia milenar quando implantou sua indústria própria,
permitindo nos últimos 20 anos um crescimento virtuoso, e é de esperar
mais outro tanto, pelo tamanho de seu mercado.
Diante dessas argumentações, que pese toda a falácia a
favor da economia de serviços, quem manda na economia ainda é a economia
real, aquela de produtos e serviços físicos finais. Esta gera empregos
reais, salários, impostos e com estes a economia gira, inclusive a de
serviços, chamado terceiro setor e não o contrário.
Não é por menos que estamos entrando neste ciclo virtuoso
de progresso com mais de 16 montadoras de automóveis em nosso país,
segundo nossa contabilidade. Se não temos um mercado interno robusto
ainda para este setor, temos por outro lado um mercado mundial pela
frente, considerando que a última planta será a mais reduzida de mão de
obra, que pela lógica a mais avançada em produtividade. Não se pode
perder esta oportunidade. Mas com infraestrutura viária pobre e com um
sistema tributário predador será dificil nossa decolagem (take off).
Sergio Sebold – Economista e Professor Independente
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